Quixadá, a capital cearense dos monólitos

Quixadá fica numa planície onde sobressaem dezenas de monólitos que compõem um parque de diversões para escaladores e caminhantes

Quixadá, a maior cidade do Sertão Central cearense, é conhecida como a terra da escritora Rachel de Queiroz (apesar de ela ter nascido em Fortaleza) e do poeta e repentista Cego Aderaldo (que nasceu em Crato, também no Ceará). Também tem a alcunha de Terra dos Monólitos em referência a dezenas de formações rochosas que marcam a paisagem ao redor da cidade e até dentro dela.

Eu e minha esposa, a Isabel, exploramos a região durante alguns dias em julho de 2025. Caminhamos até o cume do Monólito Eurípedes e até o dorso da Pedra da Galinha Choca, cuja silhueta está no brasão e na bandeira da cidade. Também visitamos o Açude do Cedro, um dos mais antigos do país, e outras atrações locais.

Quixadá fica 170 km ao sul de Fortaleza. Nós chegamos lá vindo de Guaramiranga, simpática cidade serrana 106 km ao norte, onde havíamos passado alguns dias. Diferentemente de Guaramiranga, Quixadá tem pouco movimento turístico, apesar de ter atrações que valem a visita, incluindo mais de 200 vias de escalada em rocha (um guia de 2015, com 133 vias, pode ser baixado gratuitamente no site da Companhia de Escalada). O clima no sertão é bastante quente, o que torna conveniente fazer os passeios ao ar livre de manhã cedo ou no final da tarde para evitar o sol do meio-dia.

Chegamos à cidade em seu último dia de festa junina, que acontecia num grande palco armado na praça central. Vimos as apresentações de duas “quadrilhas”, os grupos de dança que se exibem nessas festas. As danças, as músicas e até a maneira de se vestir desses grupos são muito diferentes daquilo que chamamos de quadrilha no Sudeste brasileiro. A festa continuou com quatro shows que avançaram pela madrugada. Mas só vimos o início do primeiro, já que queríamos dormir cedo para passear na manhã seguinte.

Pedra do Eurípedes

Pedra do Eurípedes, em Quixadá, Ceará
Pedra do Eurípedes: um labirinto de fendas, caverninhas e canaletas

A subida ao cume da Pedra do Eurípedes foi a melhor caminhada que fizemos em nossa viagem ao Ceará em julho de 2025. Essa formação geológica espetacular inclui corredores estreitos entre paredes rochosas, canaletas, caverninhas e janelas de pedra numa configuração um tanto labiríntica. Há muitas vias de escalada nesse monólito, que também é frequentado por rapeleiros. Mas só a caminhada até o cume já vale a visita.

O Eurípedes fica ao lado do açude homônimo, pouco mais de dois quilômetros a nordeste do centro de Quixadá, e é parte do Monumento Natural dos Monólitos. Fomos lá numa segunda-feira e estacionamos nosso carro no Acampamento e Refúgio Tribo do Benjamin, na BR-122, ponto de encontro e local de hospedagem dos escaladores cearenses.

Iniciamos a trilha perto desse lugar, no lado oeste da estrada. Seguimos até o Açude Eurípedes pelo Vale Perdido, um desfiladeiro que corta o monólito ao meio e onde há muitas vias de escalada. Depois, subimos à Janela da Psicose, lugar impressionante onde termina uma das vias de escalada mais conhecidas de Quixadá. De lá, mais uns 15 minutos de escalaminhada nos levaram ao cume, de onde se tem uma bela vista da cidade e do seu entorno. No total, acho que caminhamos por pouco mais de uma hora.

O caminho do açude ao cume nem sempre é óbvio. Pouco antes da Janela da Psicose, ele atravessa um tunelzinho escuro entre as pedras (a lanterna do celular foi suficiente para iluminá-lo). Isabel e eu fomos ajudados por algumas plaquinhas que indicavam a direção a seguir nas bifurcações. Essa sinalização havia sido colocada lá por rapeleiros, a quem somos gratos.

Também vale notar que, embora os lances de escalaminhada sejam tecnicamente fáceis (1º grau, talvez), eles podem intimidar os iniciantes. Há alguns grampos nesses lances, que podem ser usados para dar segurança com corda aos mais inseguros. Nós não levamos corda e, pelo menos para mim, a ascensão, que fiz com botas de caminhada, foi tranquila.

Pedra da Galinha Choca

Pedra da Galinha Choca em Quixadá, Ceará
Pedra da Galinha Choca: o monólito aparece desenhado no brasão e na bandeira de Quixadá

Além de ser o monólito-símbolo de Quixadá, a Pedra da Galinha Choca é a mais visitada dessas formações rochosas. Subimos lá num domingo de manhã e encontramos vários grupos caminhando, incluindo uma turma de bombeiros em treinamento.

A trilha começa no Açude do Cedro, uns 5 km a oeste do centro de Quixadá, e leva, em menos de uma hora, às costas da galinha. O caminho é sempre nítido e inclui alguns lances fáceis de escalaminhada. Já para chegar à cabeça ou ao rabo do animal, é preciso escalar alguma via mais técnica. Como faz anos que não escalo e não tínhamos levado equipamento para isso, nos contentamos com a vista do dorso da Galinha. De lá, vê-se o Açude do Cedro, com sua histórica barragem, e os monólitos em torno dele.

Açude do Cedro

O centenário Açude do Cedro fica ao pé da Pedra da Galinha Choca e, como ela, está representado no brasão e na bandeira de Quixadá. É o principal cartão postal da cidade, geralmente retratado com a Galinha Choca ao fundo; e é, provavelmente, sua atração turística mais visitada.

O Cedro foi o primeiro dos grandes açudes do Nordeste, inaugurado em 1906. Sobre a barragem, a grade de ferro artisticamente trabalhada e as lajotas que recobrem o piso remetem a uma época distante. Atravessando essa barragem, chegamos ao vertedouro em sua extremidade nordeste, logo depois de uma espécie de castelinho onde funciona um restaurante.

Pico do Urucum e Santuário Rainha do Sertão

O Santuário Nossa Senhora Imaculada Rainha do Sertão fica num patamar do Serrote do Urucum, 12 km ao sul de Quixadá, com vista desimpedida para leste e oeste. É um ótimo local para apreciar a paisagem e o pôr do sol. Já a igreja tem como curiosidade uma coleção de imagens de Nossa Senhora de cada país latino-americano.

O santuário também é ponto de partida para a ascensão ao Pico do Urucum. Inicia-se essa subida por uma escadaria de concreto na extremidade sul do complexo, aonde se chega por uma passarela que passa sobre o hotel e a livraria que fazem parte dele. Depois de alguns minutos de subida, a escadaria dá lugar a uma trilha. Mais acima, há alguns lances de escalaminhada e pelo menos dois trechos de escada de ferro.

Estive nessa trilha num horário em que fazia muito calor e eu não tinha levado água. Além disso, eu estava de sandálias, que não são o calçado adequado para uma trilha com lances de escalada (eu deveria ter ido de botas). Por isso, não cheguei ao cume. Mas imagino que a vista lá de cima deve ser sensacional, já que se trata de uma elevação isolada, com a visão do entorno desimpedida.

Pedra do Cruzeiro

O acesso a esse monólito urbano é feito pela Travessa Piquet Carneiro, bem no centro de Quixadá. São uns 15 minutos de caminhada até o cume, de onde se tem ótima visão da cidade. Perto do cume, há uma janela de pedra voltada para oeste à qual se chega contornando as antenas de radiocomunicação pelo sul. A subida, que conta com alguns degraus e pontezinhas de concreto, já foi iluminada no passado. Mas, quando estivemos lá, não havia nenhuma lâmpada inteira nas luminárias.

Atrações urbanas

Quixadá, no Ceará, vista do cume da Pedra do Eurípedes
Quixadá: a cidade cearense vista do cume da Pedra do Eurípedes

Em nossa última manhã em Quixadá, visitamos algumas atrações na área central da cidade. Foram estas (os links levam à localização no Google Maps):

Há outras atrações na região que não visitamos, como a Fazenda Não Me Deixes, onde morou Rachel de Queiroz, e trilhas que levam a grutas e cumes de monólitos. Ficam para a próxima oportunidade. Depois de conhecer Quixadá, fomos encontrar alguns amigos em Cumbuco, no litoral cearense, e, com eles, fizemos a Travessia dos Lençóis Maranhenses.

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