A natureza exuberante da Chapada dos Veadeiros

A Chapada dos Veadeiros, em Goiás, oferece cachoeiras espetaculares e interessantes formações rochosas. Leia um relato da nossa visita à região e algumas dicas de passeios.

A Chapadas dos Veadeiros é uma ampla área com belas cachoeiras e desfiladeiros em meio ao cerrado goiano, cerca de 200 km ao norte de Brasília. Minha esposa, minha filha e eu passamos duas semanas lá em julho de 2022. Como, ocasionalmente, alguém me pede dicas para viajar para lá, reuni minhas anotações de viagem neste post. Como já se passaram três anos, algumas informações podem, é claro, estar desatualizadas. Mas suponho que a maioria das dicas ainda sejam válidas.

A Chapada dos Veadeiros se espalha por oito municípios goianos. As principais cidades que servem como base para os turistas são Cavalcante e Alto Paraíso de Goiás, além da vila de São Jorge, no município de Alto Paraíso. Nós escolhemos ficar em Alto Paraíso pela localização no centro da Chapada e por ser uma cidade com bastante comércio e opções de hospedagem. Para chegar lá, voamos para Brasília, onde alugamos um carro.

Algumas das atrações da Chapada dos Veadeiros ficam dentro do parque nacional homônimo. Outras ficam em propriedades particulares (que cobram ingresso dos visitantes). O acesso às cachoeiras quase sempre exige transitar por estradas de terra. Na época em que fomos, o tempo estava ensolarado e não tivemos dificuldade para chegar até essas atrações num carro comum, com tração dianteira. Mas é melhor evitar ir a Veadeiros no Verão, quando chove muito e as estradas tendem a ficar enlameadas.

Fizemos todos os passeios de forma independente, sem contratar uma agência de turismo ou um guia local. Existem algumas cachoeiras na região onde só se permite a entrada com guia local, mas essas nós não visitamos. Todas as caminhadas que fizemos estão mapeadas em aplicativos de navegação em trilha como Gaia GPS, Maps.Me e Wikiloc. Assim, é fácil encontrar o caminho.

Em duas semanas, conhecemos só uma pequena parte das atrações da região. É um lugar aonde pretendemos voltar algum dia. Segue um resumo dos passeios que fizemos.

1 – Travessia das Sete Quedas

A Travessia das Sete Quedas é uma bela caminhada de um dia e meio no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (PNCV), que ocupa uma área de 240 mil hectares (2.400 km²) no centro da Chapada. Essa travessia passa por diversas cachoeiras e inclui um agradável pernoite no acampamento Sete Quedas, à margem do Rio Preto, que atravessa o parque.

Se você quiser percorrê-la com uma mochila pequena, pode dispensar a barraca e bivacar ou dormir numa rede leve. A caminhada é bastante fácil e estava bem sinalizada quando a percorremos. Se você for razoavelmente rápido, pode visitar, no caminho, as atrações da Trilha Vermelha (Cânions e Cariocas) do PNCV. A maior parte da travessia é feita por lugares muito agradáveis. Só no final, ela segue por uma estradinha e fica um tanto monótona.

O acesso ao parque é feito pela vila de São Jorge. Perto da entrada, há um estacionamento onde deixamos nosso carro. É quase sempre necessário comprar ingressos com antecedência, já que há um número limitado de vagas diárias. Isso deve ser feito no site da Parquetur, a empresa privada que administra o parque. A trilha termina na estrada GO-239, que liga Alto Paraíso a São Jorge. Para retornar ao estacionamento, nós contratamos uma pessoa para nos buscar de carro.

Quando estivemos na Chapada dos Veadeiros, a Travessia das Sete Quedas era a única caminhada com pernoite permitida no PNCV. Mais recentemente, o parque liberou também a Travessia São Jorge – Capela, igualmente curta e compartilhando quase todo o percurso do primeiro dia com a das Sete Quedas.

O parque também implantou um segundo acampamento, chamado Boa Sorte. Ele parece ser uma opção melhor que o Sete Quedas. Dormindo no Boa Sorte, a travessia fica dividida em partes mais iguais, com mais tempo para aproveitar as cachoeiras no primeiro dia. Infelizmente, a travessia de Cavalcante a São Jorge, percorrida há décadas por montanhistas, continua proibida.

2 – Trilha dos Saltos do PNCV

Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros
PNCV: as trilhas do parque estavam bem sinalizadas quando estivemos lá

A chamada Trilha Amarela (Trilha dos Saltos, Carrossel e Corredeiras) do PNCV dá acesso a diversas cachoeiras, incluindo duas muito impressionantes — o Salto do Rio Preto, com 120 metros de queda, que os visitantes observam de longe, e a Cachoeira do Garimpão, de 80 metros, onde se pode nadar no rio. A trilha está bem sinalizada, tem cerca de 11 km (ida e volta) e é um passeio para um dia inteiro.

Compre ingressos com antecedência no site da Parquetur, que administra o parque, já que há um limite diário de pessoas que podem entrar em cada trilha. Quem quiser pode encurtar a caminhada contratando um transporte em van até perto das cachoeiras (mas nós preferimos ir andando).

3 – Cachoeira do Sertão Zen

A caminhada até o Sertão Zen é uma boa introdução aos vários ambientes do cerrado e passa sobre dois morros altos, com belos visuais, terminando numa cachoeira espetacular. Para ir ao Sertão Zen, saímos caminhando da casa que tínhamos alugado em Alto Paraíso de Goiás. Mas, a menos que você já esteja perto do início da trilha, recomendo que vá de carro até lá. Fizemos ida e volta em um dia, embora seja possível acampar perto da cachoeira. A caminhada tem 8,3 km (só ida) e está razoavelmente bem sinalizada. Demoramos 4 horas para ir e mais 4 para voltar. Portanto, comece cedo e leve lanterna.

Quando percorremos essa trilha, fomos e voltamos pelo mesmo caminho. Um caminho alternativo, que poderia compor um percurso circular com a trilha que percorremos, estava, na época, interditado. Parece que, depois, essa trilha alternativa foi reaberta, de modo que já é possível fazer o percurso circular. Veja o roteiro do grupo Caminhos dos Veadeiros no Wikiloc.

Uma variante que pode ser interessante (mas que não percorremos) é virar à direita na placa que indica o acesso ao Rio Umiri, já no trecho final perto do Serão Zen. Desça até o rio (bastante seco no Inverno) e, chegando lá, vire à esquerda e continue por dentro dele até a cachoeira do Sertão Zen. Quando chegar à cachoeira grande, atravesse o rio e procure uma trilhinha que leva a um mirante na margem esquerda, de onde você terá uma visão espetacular dela. Na volta, é possível ver o pôr do sol do último mirante.

4 – Cataratas dos Couros

O complexo de cachoeiras ao longo do Rio dos Couros proporciona um passeio agradável e variado. Ele combina visões impressionantes das cachoeiras e do desfiladeiro a jusante delas com incontáveis oportunidades para banhos. É um passeio para todos os gostos por uma trilha circular de uns 4 km.

Um decreto de 2020 estabeleceu, nessa área, o Parque Estadual Águas do Paraíso. Quando estivemos lá, em 2022, esse parque ainda não estava implementado na prática. Não havia cobrança de ingresso nem restrições de acesso. Mas é possível que isso mude com o tempo.

Para chegar às Cataratas dos Couros vindo de Alto Paraíso, segue-se por 19 km pela BR-010 no rumo sul. Depois, é só virar à direita e rodar mais 40 km por uma estrada de terra até o estacionamento 500 metros ao sul da Cachoeira da Muralha.

Depois da Cachoeira da Muralha, o Rio dos Couros segue para oeste formando diversas quedas menores até mergulhar num profundo desfiladeiro ao pé das cachoeiras Buracão, Parafuso e Almécegas 1000 (convém não confundir esta última cachoeira com as Almécegas I e II, que ficam em outro local).

Para visitar esse trecho do rio, fizemos um percurso circular iniciando por uma trilha que começa no extremo oeste do estacionamento (ou seja, no extremo oposto àquele por onde você chega de carro; veja o mapa abaixo). Essa trilha segue em curva de nível até um ponto onde começa descer em direção ao rio. Um caminho íngreme leva a alguns mirantes que oferecem visões espetaculares das cachoeiras e do desfiladeiro a jusante delas.

Depois, continuamos pela trilha que acompanha o rio, no rumo leste, parando para banho ao pé da Almécegas 1000 e acima dela. Seguimos, sempre subindo o rio, com muitas paradas para banho, até a Cachoeira da Muralha. De lá, há uma trilha que sobe diretamente para o estacionamento. Essas trilhas são nítidas e podem ser visualizadas no Gaia GPS. Havia bastante gente no local quando estivemos lá.

Cataratas dos Couros, na Chapada dos Veadeiros - Mapa
Cataratas dos Couros: as trilhas partem do estacionamento (assinalado à direita)

5 – Cachoeiras Macaquinhos

O Complexo de Cachoeiras do Rio Macaquinhos é um conjunto de dez cachoeiras e poços ao longo de uma trilha de uns 4 km (ida e volta). Fica numa propriedade particular a sudeste de Alto Paraíso. O lugar estava tranquilo quando fomos, as cachoeiras são lindas e algumas delas são muito agradáveis para banho.

Para chegar lá partindo de Alto Paraíso, pegue a BR-010 em direção a Brasília e vire à esquerda depois de 13 km, onde há uma placa indicando o caminho. Desse local, são mais 31 km de estrada de terra até lá. Se você for com carro de tração dianteira, deixe-o a 900 metros da entrada da fazenda, onde há uma placa dizendo algo como “Deste ponto em diante, só veículos 4×4”.

6 – Vale da Lua

Vale da Lua, na Chapada dos Veadeiros, Goiás
Vale da Lua: uma curta escalaminhada permite descer ao fundo do estreito cânion

O Vale da Lua, próximo à vila de São Jorge, é uma das atrações mais conhecidas da Chapada dos Veadeiros. Trata-se de um cânion estreito formado pelo Rio São Miguel, que termina com uma pequena queda d’água e duas piscinas naturais. Há alguns lugares específicos onde é possível entrar no pequeno cânion e descer até o rio.

Como o Vale da Lua tem acesso muito fácil, estava superlotado quando estivemos lá. Isso confirmou algo de que já suspeitávamos: em época de férias, é melhor evitar as atrações que ficam perto de cidades ou de estradas asfaltadas, já que tendem a ficar lotadas.

7 – Travessia Duas Cruzes – Morro do Chapéu

Segundo alguns relatos, a Travessia Duas Cruzes – Morro do Chapéu, no município de São João da Aliança, está, agora, fechada. Não sei o motivo da interdição, mas a trilha atravessa propriedades particulares e é possível que algum fazendeiro tenha proibido a passagem dos caminhantes. O roteiro que usamos parece ter sido removido do Wikiloc. É uma pena, já que essa travessia seria parte do Caminho dos Veadeiros, um projeto de trilha de longo curso atravessando toda a Chapada.

Em 2022, nós fizemos a travessia em três dias. Contratamos uma pessoa em São João da Aliança para nos levar até o início, no local conhecido como Duas Cruzes. A mesma pessoa levou nosso carro para a Fazenda Elisa, ponto final da caminhada. Encontramos alguns moradores locais pelo caminho, mas nenhum outro turista.

Os primeiros dois dias foram os mais interessantes, com a trilha seguindo sobre morros e passando perto da Cachoeira das Andorinhas, aonde chegamos por uma trilhinha secundária. No terceiro dia, depois de atravessar fazendas de gado, a caminhada segue por uma estradinha e fica um tanto monótona. Passamos pela base do Morro do Chapéu, que dá nome à trilha, mas não chegamos a subir nele.

Dormimos a primeira noite num curral abandonado; e a segunda, junto à sede de uma fazenda. O proprietário da fazenda, Alex, tinha planos para implementar um camping lá. Mas, como o camping ainda estava em projeto, ele não cobrou pelo acampamento. Nessa fazenda, visitamos a Cachoeira São Mateus, a uns 400 metros da sede.

Como escrevi acima, relatos indicam que essa trilha está fechada em 2025. Então, se você resolver ir lá, convém informar-se antes se ela foi reaberta.

1 comentário em “A natureza exuberante da Chapada dos Veadeiros”

  1. Boa, Mauricio. Mais uma vez, informações objetivas e confiaveis. Esse negocio de se obrigar a contratação de um guia acompanhante para visitar um atrativo, é ilegal (ao meu ver, claro). O Cod. do Consumidor é claro quando proibe a venda casada. O atrativo é um bem publico, localizado em terras particulares, o que não dá ao proprietario cobrar, nem pela entrada, muitop menos, tentar vincular um serviço de guia. Lembbra daquele detalhe do Direito de ir e vir? Escrevi, tempos atras, um artigo abordando o tema. abraços e parabens.

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